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CONSAGRADOS (34)

Necessidade dum medianeiro junto do próprio medianeiro que é Jesus Cristo

É muito mais perfeito, porque é mais humilde, tomar um medianeiro para nos aproximarmos de Deus. Se nos apoiarmos sobre nossos próprios trabalhos, habilidade, e preparações, para chegar a Deus e agradar lhe, é certo que todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas e peso insignificante terão junto de Deus, para movê lo a unir se a nós e nos atender, pois, como acabo de demonstrar, nosso íntimo é extremamente corrupto. E não foi sem razão que ele nos deu medianeiros junto de sua majestade. Viu nossa iniqüidade e incapacidade, apiedou se de nós, e, para dar nos acesso às suas misericórdias, proporcionou nos intercessores poderosos junto de sua grandeza; de sorte que negligenciar esses medianeiros e aproximar se diretamente de sua santidade sem outra recomendação é faltar ao respeito a um Deus tão alto e tão santo; é menosprezar este Rei dos reis, como não se faria a um rei ou príncipe da terra, do qual ninguém se aproximaria sem a recomendação de um amigo.

Nosso Senhor é nosso advogado e medianeiro de redenção junto de Deus Pai é por intermédio dele que devemos rezar com toda a Igreja triunfante e militante; é por intermédio dele que obtemos acesso junto de sua majestade, em cuja presença não devemos jamais aparecer, a não ser amparados e revestidos dos méritos de Jesus Cristo, como Jacob revestindo se da pele de cabrito para receber a bênção de seu pai Isaac.

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Mas temos necessidade dum medianeiro junto do próprio medianeiro? Será a nossa pureza suficiente para que nos permita unir nos diretamente a ele, e por nós mesmos? Não é ele Deus, em tudo igual ao Pai, e, por conseguinte, o Santo dos santos, digno de tanto respeito como seu Pai? Se ele, por sua caridade infinita, se constituiu nosso penhor e medianeiro junto de Deus seu Pai, para aplacá lo e pagar lhe o que lhe devíamos, quer isto dizer que lhe devemos menos respeito e temor por sua majestade e santidade? Digamos, pois, ousadamente, com São Bernardo , que temos necessidade de um medianeiro junto do Medianeiro por excelência, e que Maria Santíssima é a única capaz de exercer esta função admirável. Por ela Jesus Cristo veio a nós, e por ela devemos ir a ele. Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo Deus, em vista de sua grandeza infinita, ou por causa de nossa baixeza, ou, ainda, devido aos nossos pecados, imploremos afoitamente o auxílio e intercessão de Maria nossa Mãe; ela é boa e terna; nela não há severidade nem repulsa, tudo nela é sublime e brilhante contemplando a, vemos nossa pura natureza Ela não é o sol, que, pela força de seus raios, nos poderia deslumbrar em nossa fraqueza, mas é bela e suave como a lua (Cant 6, 9), que recebe a luz do sol e a tempera para que possamos suportá la. É tão caridosa que a ninguém repele, que implore sua intercessão, ainda que seja um pecador; pois, como dizem os santos, nunca se ouviu dizer, desde que o mundo é mundo, que alguém que tenha recorrido à Santíssima Virgem, com confiança e perseverança, tenha sido desamparado ou repelido . Ela é tão poderosa que já mais foi desatendida em seus pedidos; basta lhe apresentar se diante de seu Filho para pedir lhe algo, e ele só ouve o pedido para logo conceder lhe o que ela pede; é sempre amorosamente vencido pelos seios, pelas entranhas e pelas preces de sua querida Mãe.

Tudo isto é tirado de São Bernardo e de São Boaventura. De acordo com suas palavras, temos três degraus a subir para chegar a Deus: o primeiro, mais próximo de nós e mais conforme à nossa capacidade, é Maria; o segundo é Jesus Cristo; e o terceiro é Deus Pai . Para ir a Jesus é preciso ir a Maria, pois ela é a medianeira de intercessão. Para chegar ao Pai eterno é preciso ir a Jesus, que é nosso medianeiro de redenção. Ora, pela devoção que preconizo, mais adiante, é esta a ordem perfeitamente observada.


Tratado da verdadeira devoção à Santissima Virgem

Sao Luis Maria Grignon de Montfort

 

Editora Retornarei Ltda.

 

2ª edição - 2016



Coordenação: João Sérgio Guimarães